A história que vamos narrar, não é fruto da imaginação criadora. É a vida real de um cidadão rio-branquense que, embora o seu feito engrandeça a nossa raça, continua vivendo na mesma humildade de antes. Elias José do Couto é o seu nome. Elias é dessas almas grandes, que não contrariam ninguém, amigo de toda gente, trabalhador, honesto, prestativo, ótimo filho, exemplar esposo, pai extremado, ex-craque de futebol (foi goleiro do Nacional Atlético Clube por muitos anos) e célebre pelas suas gostosas gargalhadas. Em síntese, passamos à sua triste e comovente história...
Em 1942 foi convocado para servir a Pátria contra o nazi-nipo fascismo, o cidadão Geraldo José do Couto da cidade de Visconde do Rio Branco, Minas Gerais. O Secretário da Junta Militar desta cidade, de então, não obstante as alegações e provas apresentadas por Elias José do Couto, desprezando o prenome para somente argumentar com o nome de família, impôs a ida do pacato cidadão, trocando-lhe, sem a menor formalidade, o prenome. O zelo no cumprimento da lei do então Secretário à semelhança de Javert, personagem de Victor Hugo, transpôs as raias do normal para fazer passar por duras provações humilde pedreiro de nossa cidade, que nem ao menos parentes tem com o nome de Geraldo. Seguiu para Juiz de Fora com o nome que lhe deu o zeloso funcionário. Daí foi para São João del-Rei. Quarenta e oito dias depois, rumou para o Rio de Janeiro para integrar o 11º Regimento de Infantaria.
Em 1944 no 2º Escalão embarcou para a Itália como expedicionário brasileiro, sob o comando do Cel. Delmiro Pereira de Andrade, Comandante do 11º R.I. Depois de uma viagem apreensiva, cheia de sobressaltos e de grande tensão nervosa, acompanhados de angustiosa saudade dos seus entes queridos, desembarcou em Nápoles, indo em seguida para Fornovo onde descansou 31 dias. O predestinado herói fora escolhido aí para em companhia dos colegas Wanderley Antonio de Melo e Nestor Alves da Costa observar os combates do 6º R.I. que estava em ação. Depois de dezoito dias de convivência com os combatentes voltou com seus companheiros para explicar ao comandante da companhia e aos seus colegas, os processos de combates empregados no "front" da Itália. Após um mês de instruções para o ataque, seguiu todo o batalhão para o front de Monte Castelo. Começaram a subir o morro no dia 28 de novembro de 1944, tendo às 18 horas alcançado o ponto almejado para o início do histórico acontecimento. Duas horas depois receberam ordens do comando geral para o ataque e tomada de Monte Castelo, não conseguindo o objetivo, dada a resistência da tropa alemã, que ali se achava concentrada. Tornando-se necessária a retirada das tropas da 8ª Companhia da qual fazia parte o herói de nossa terra, ficou mantendo o fogo a fim das outras se recuarem para tomar posição. Houve perdas e ferimentos na sua Companhia por esta ocasião, porém o mais trágico foi a sua retirada. Esta se deu debaixo de forte tempestade, com relâmpagos, raios e fogo contínuo do inimigo. Nesta retirada, dois sargentos e seis soldados se congelaram. Transferido com sua Companhia para Bombiana onde seu capitão esperava fazer um bloqueio no inimigo, não o conseguindo, foi que Elias consagrou-se herói da 2ª Grande Guerra!
Com o malogro do bloqueio de Bombiani, a 8ª Companhia recuou mantendo na frente uma patrulha da qual fazia parte Elias, mais 5 soldados e o 1º Ten. Seixas. Em dado momento, houve um choque de patrulhas. Alemães e brasileiros com inferioridade em número destes, travaram sangrenta luta. Neste choque de extermínio, Elias depois de ferido à bala e caído no chão, recebeu de um soldado de Hitler forte coronhada de fuzil nas costelas. Sem forças para locomover-se, sem poder dar um gemido a fim de se passar por morto na "terra de ninguém" como cognominaram o local fatídico, permaneceu 48 horas imóvel. O seu sofrimento era terrível sendo que nem ao menos manifestá-lo podia. A patrulha alemã, composta de 15 homens, aproximando-se do suposto cadáver, virou-o de um lado e de outro, tirou-lhe do bolso o maço de cigarros, seu chocolate, sua alimentação do bornal, sua metralhadora de mão, sua munição e sua roupa, deixando-o apenas com roupas menores e dizendo palavras que correspondiam : "um brasileiro a menos!" Elias, com o pensamento em Deus, em sua pátria, em sua noiva e em sua família, certo de que morreria, já tinha sido dado como desaparecido - não se acovardou. Sentia-se feliz e honrado em sacrificar-se por uma causa justa, porém com grande tristeza, via que sua família iria ficar desamparada, pois o soldado que lutava bravamente e que ia perecer, não era o Elias querido e estimado por todos e sim o Geraldo José do Couto, figura imaginária, que entraria para o rol dos soldados desconhecidos, se não houvesse algum locupletamento.
Um raio de luz aclarou-lhe o pensamento. Havia ainda uma esperança. Um seu conterrâneo de
São José do Barroso, soldado Domingos Teixeira Valente conhecia a sua história e, na
qualidade e companheiro de patrulha., levaria sem dúvida, aos seus as necessárias notícias.
De repente, como que do céu, surgiu uma voz fraca e suave aos seus ouvidos. Era Domingos que
tangido pela solidariedade do conterrâneo e impelido pela sua bravura, voltou para socorrer
o amigo, porém com a aproximação da patrulha alemã teve que voltar atrás e se esconder.
Momentos depois, sutil e ágil como um gato, agarrou Elias e quando o arrastava na escuridão,
debaixo do fogo de barragem, ao explodir uma granada próxima de si, jogou Elias para um lado
protegendo-o com seu corpo, saindo ferido na perna. Não obstante, arrastando-se, conduziu
Elias até a posição de seus companheiros, onde receberam os curativos de emergência. O
dedicado e heróico companheiro, depois de baixar ao hospital por uns dias voltou ao "front".
Elias foi levado para Washington em avião especial e graças ao espírito humanitário e a
evolução da ciência médica na América do Norte, depois de 25 dias, com o enxerto de duas
costelas de platina, são e salvo, voltou para o "front" da Itália tomando parte, entre
outras, na batalha de Montese, a qual considera a mais dura de todas.
Agora, está o heróico rio-branquense cogitando a retificação do seu nome, a fim de que as
condecorações a que tem direto sejam entregues a Elias José do Couto e não a Geraldo José do
Couto. Publicado no jornal "Visconde do Rio Branco" em 11/07/1948.
Em sua história, nosso herói construiu uma família composta por: cinco filhos(Maria Constância Couto, Carmen Lúcia do Couto, Rita Cornélia do Couto, Raquel Couto e José Miranda Couto), seis netos(Ana Cristina do Couto Benavente, Caio Couto Oliveira da Silva, Giselle Brandão Couto, Grazielle Brandão Couto, Maria Letícia do Couto Pacífico e Maria Patrícia do Couto Pacífico).
Nasceu em 04 de Agosto de 1919, em Visconde do Rio Branco, Minas Gerais
Filho de Isalino José do Couto e Constância Pereira
Casado com Dinah Miranda Couto